quinta-feira, 15 de março de 2012

Prinz und Prinzessin.


 Um dia sonhei que poderia ser prinzessin e ter um prinz. Sonhava enquanto brincava em meus castelos de edredom com alicerces de guarda-roupa. Sonhava para brincar, pois sabia que na verdade essas coisas de prinzessin und prinz nem existem. Nunca acreditei em histórias perfeitas, em pessoas perfeitas. Mas vivia buscando o momento perfeito. Cansada de brincar e de pensar que o momento perfeito chegara, resolvi, em meu castelo de pensamentos, descansar.
  Eis que me bate à porta do coração tremenda sensação. Com medo não abri e disse "Vá embora que aqui não é seu lugar". Vi uma suave sombra na porta encostar e por debaixo dela um bilhete passar. Nele dizia "Não tenha medo de mim, apenas abra a porta e sorria". "Não há espaço para sorrisos agora, vá embora" - eu respondi. Não se foi. Por debaixo da porta outro bilhete... Resolveu, tal estranho, se apresentar e então lhe reconheci.
  Bilhete por bilhete sabia mais e falava mais de mim. Tomando coragem através dos incentivos troquei o papel por tons e de minha garganta a voz, quase empolgada, já saia para uma boa conversa. Era fácil falar de tudo. Só não era fácil falar de mim. Aos poucos minha história revelei e já esperava a ausência de minha mais nova companhia. No entanto, não se foi. Dia após dia voltava e parecia vir cada vez mais cedo.
  Até que, curiosa, a porta abri. De início não esbocei reação, mas estava feliz por poder ver de quem era a voz que me fazia bem. Surpreendida com um abraço sem jeito, meu coração desprevenido pulou e minha face corou. Era estranho me sentir assim.
  Como um bichinho assustado na toca, me sentia tímida toda vez que abria a porta. Despida da beleza de largo sorriso, de olhos vivos e face vibrante, sentia-me tão opaca quanto a madeira que compunha o batente no qual me recostava. Mas a pessoa a minha frente sempre sorria e da minha vergonha fazia piadas.
  As horas exposta ao sol me fizeram recuperar um pouco da cor e logo saia do batente para o degrau da porta, onde sentada podia ficar mais tempo a conversar e me sentir mais à vontade. Sem perceber, todos os dias ele me abraçava e falava sobre as coisas boas dessa vida. Não que eu não soubesse da existência delas, mas parecia meio esquecida. Com o tempo percebi que só não acreditava mais em algumas.
  Com medo do que pudessem pensar. Inventei passeios pelo campo perto de casa. Era lá que podíamos na relva deitar e por horas rir, conversar e brincar. Aprendi, ensinei e algumas vezes sem dormir sonhei.
  Mas o medo e a precaução andavam como parceiros de meu sorriso, que já não era tão fácil. Sentia o coração pular, as mãos tremer e diante disto recuava... recuava sempre. A figura que me tirara de casa não entendia, mas respeitava e vez ou outra questionava. Eu explicava, falava mais de mim, de tudo que vivia e assim minha desculpa era aceita.
   O nome pouco importa, tampouco de onde vinha já que eu sabia para onde iria. Mein Prinz era ele e eu era Ihre Prinzessin. Naquelas horas eu sorria sem medo, mas nunca me aproximava o bastante para que pudesse sentir meu coração pular ou minhas mão suarem. Tudo antes era em tons de cinza, passaram para sépia e agora eu acordava e dormia vendo tons pastéis.
  Mein Prinz se esforçava, trazendo pincéis com aquarela e instrumentos magníficos... tudo para alegrar meu dia. Aos poucos eu experimentava e ia gostando, me envolvendo e deixando tudo acontecer. Quando me assustava e fugia Mein Prinz vinha atrás e dizia " Calma Meine Prinzessin, uma passo de cada vez".

  E foi assim, com um passo de cada vez que ele se tornou Mein Prinz e que chegamos até aqui.

Um comentário:

  1. Ficou muito bom o texto, Cah! Saudades minha querida amiga! Aproveite cada momento com seu Prinz!

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