sábado, 31 de dezembro de 2011

Vazio...




Olhos cor de mogno, profundamente escuros e intensos. Olhos estes que já não tinham a mesma cor, não porque a estavam perdendo, mas porque não havia o mesmo brilho neles; olhos que já não tinham a mesma graça porque olhavam vazios para a vasta paisagem.
Era um pôr do sol alaranjado, vivo, intenso em seus tons de laranja, vermelho e amarelo, próximos à borda da maior estrela se nosso Sistema e que se transformavam num azul, primeiramente suave, quando mais distante do centro, mas que rapidamente ia escurecendo pelo cair da noite. Todo este espetáculo começava a parecer sem graça.
Os cones e bastones daqueles lindos olhos pareciam, em respeito à dor do coração que mais abaixo estava preso entre costelas e pulmão, não querer exercer sua função de reconhecer as cores, suas nuances, suas diferenças. Era tudo era “cinza” então.
A respiração ofegava conforme as batidas descompassadas apertavam o espaço divido dentro daquele peito. Não era ansiedade, tão pouco medo... era tristeza. Lembrava-se de como dizia se sentir triste, desanimada e sentia, então, raiva, pois agora sim a real sensação de tristeza sentia, mas não lembrava que era assim. Antes era feliz, não podia dizer que muito feliz, pois sabia que a felicidade, em sua real essência, mal conhecia.
 Lembrar-se das boas lembranças era inútil, pois misturadas à realidade de que não mais se repetiriam transformavam-se em veneno n’alma, fazendo-a desejar e sentir coisas que não queria.
Suave melodia entrava em seus ouvidos, através do fone conectado ao celular enfiado num de seus bolsos. Escolheu músicas sem melodia, pois temia que as palavras lhe machucassem. Errou novamente, pois se esquecera de que as melodias mais afetavam do que as palavras, neste único caso. Tudo aquilo não precisava de palavras, as cordas traziam sons e ela imaginava os dedos que as percorriam, cantarolando algumas palavras daquela linda música.
Fechou os olhos e as pernas se cansaram, sentou pesadamente naquele chão. Bem que gostaria de estar longe de tudo, de todos, mas não estava. E cansada de pensar procurava, sem sucesso, deixar de fazê-lo. Sentia-se sem um pedaço, sem esperança, esvaindo-se em “nada”.
O que mais lhe incomodava não era bem o findar do que há pouco tinha começado, e sim aquilo que já existia antes, antes de qualquer intenção, de qualquer erro, de qualquer ato pensado. Aquilo pelo que não havia buscado, mas que se iniciara sozinho, sem palavras, sem intenção. Começou pelos olhares que se encontraram e mandaram a mensagem ao coração.
Não foram os corpos que se reconheceram sim as almas, os Espíritos que se afinizavam e amavam. Era um sentimento puro, com desejo de felicidade e proteção do próximo. Era amizade, amor de irmão. Resistiam aos chamados da carne por respeito de si mesmos, do outro e ainda de terceiros, isso nunca foi problema, pois sabiam quão valioso era aquele sentimento.
Mas não foi um erro, não foi em vão. Ou foi? Por que aquele vazio se o amor ainda existia? Bom, para ela existia, mas só poderia falar por si.
O maior desejo, aquele que ecoava em seu ser era que aquele amor, o primeiro, não findasse, não secasse. É só ele que importa, só ele. Era, é esse desejo que adormece e acorda todos os dias dentro de seu coração descompassado, aflito pelos tremores do medo, da incerteza. Pelo frio daquela voz, que fora antes tão quente de sentimentos e cheia de significado.
Sumir assim, de repente? Não, não conseguia acreditar nisso. Estavam cegos. Ela por uma promessa vinda de si mesma e ele por uma feita em outros tempos por ele mesmo. Ele buscava a sua e ela morria pela que não se fez. E quando digo morrer, me refiro à morte da esperança, do querer lutar, do querer desistir.
Sem entender o porquê de tanta confusão, desistiu de segurar e se entregou às imagens de seu coração. Misturavam-se entre imagens vividas e apenas vistas, boas e neutras. Entregou-se à dor vibrante e escutava o pulsar inconstante em seus tímpanos, abafando a melodia da música que já nem ouvia, sentindo as contrações involuntárias dos soluços, a falta de ar pelo esquecimento de inspirar, olhos apertados, lábios mordidos, virou de lado encolhendo-se como quem segura uma grande dor.
Passou apenas dois minutos neste desespero, neste conflito, sentindo a vontade gigantesca de sumir. Explodiu num grande suspiro que por dentro materializava-se como um grito, quis gritar, mas não tinha voz. Parou. Passou a controlar, lentamente a respiração, organizou os sentimentos, baniu a voz do coração e buscou a consciência para não enlouquecer.
Desapertou os olhos, mas não os abriu; as lágrimas antes frenéticas escorriam agora mais lentamente; os lábios apenas fechados, a respiração pesada, no entanto, calma; relaxou os músculos do abraço em si mesma, virou de costas para a cama e ali ficou.
De tudo, apenas o motivo da dor, os pensamentos, a música e o pranto eram reais. O pôr do sol não existia, não fora de sua mente e não esteve em pé. Quando aconteceu o dia já era frio e prata, parecendo poupar os envolvidos de assemelhar tal tristeza com a beleza de um céu azul. O dia era prata porque parecia ter um céu duro, como esta.
Já era noite e estava cansada. Abriu os olhos, que eram sem vida, como aqueles que em sua mente miravam o pôr do sol, e também vermelhos, mas ela não via, apenas sentia. Afogados e embaçados. Sem força, virou-se ao lado oposto da posição de dor, era o lado de dormir, o esquerdo; afagou seu leão de pelúcia, sorte ele não ter mais cheiro; afastou o cobertor, seu corpo estava quente. Num suspiro cortado que custou a sair, relaxou e iniciou uma prece que a fez desligar sua consciência do mundo material.
Não ouviu mais nada, não sentiu mais nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário